domingo, 8 de março de 2009

Mestre é bom estarmos aqui!


A liturgia que hoje celebramos é um contraste, eu diria, com o Tempo que estamos a vivenciar: a Quaresma. Toda a liturgia de um modo geral, tende a evidenciar a Glória de Deus, testemunhada em Jesus no Tabor. Primeiramente, essa glória de Jesus presenciada pelos discípulos no Tabor, é-nos apresentada como um antegozo da sua ressurreição, animando-nos e alentado-nos neste caminho quaresmal.


Durante esta caminhada que se desenvolve numa tríplice perspectiva (oração, penitência e caridade) nós podemos através de tal relato, contemplarmos a prefiguração do grande acontecimento da nossa fé: a Ressurreição, esta que não fora compreendida de imediato por aqueles que estavam com o Mestre no Monte Tabor. E aqui, eu vos chamo à atenção para "subir ao monte"... Isto é, ir ao encontro de Deus através da oração e da penitência. Subir signica ascender de uma realidade à outra! É-nos feito tal convite: sair de nós mesmos e nos encontrar-mos em Deus que se manifesta plenamente em Jesus Cristo, Nosso Senhor. E, em se falar de manifestação, é de se perceber que Deus manifesta-se aos olhos dos discípulos e o sinal é a nuvem, símbolo do Espírito Santo. Ocorre, pois, o que chamamos de 'teofania', manifestção divina... É Deus mesmo, que se manifesta!


Já as leituras anteriores, a primeira quer nos chamar à atenção para o cumprimento da lei. A obediência cega à Lei, que exprime a vontade de Javé, é premiada, conforme o modelo de Abraão. Esta concepção é prenhe de violência, particularmente quando a premiação é a conquista das cidades dos inimigos e a supremacia sobre todas as nações da terra. Porém, sob outro ponto de vista, pode-se ver na transfiguração a revelação da condição divina de Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, na simplicidade de seu convívio entre nós. Os discípulos devem perceber em Jesus a nova condição humana glorificada pela encarnação do Filho de Deus. Não se trata de esperar um messias poderoso, mas, sim, de reencontrar a dignidade e a grandeza da condição humana, em tudo que ela tem de justo, bom, verdadeiro e belo. Ao entrarmos em comunhão de amor com Jesus e com o próximo, Deus é glorificado e nos é comunicada sua vida divina e eterna.


A segunda leitura não muito distantamente, através de uma ótica messiânica-escatológica, a transfiguração seria o prenúncio da ressurreição, como coroação dos sofrimentos de Jesus em sua Paixão. Jesus é rei e o seu trono é a cruz; Cruz esta, que rememora o trono da Glória de Deus.


Tal como Jesus, durante essa Quaresma, devemos experimentar a transfiguração... É preciso ser transfigurados pelo Espírito para gozarmos de uma nova vida, onde o ápice dar-se-á na Páscoa de Jesus. É lá que nós poderemos gozar da total transfiguração, nos tornando novas criaturas.


Por fim, isso nos revela a dimensão do amor de Deus, da sua paixão pela humanidade, do seu compromisso salvífico em nosso favor! Ele pode nos pedir tudo, caríssimos, e nós deveríamos dar-lhe tudo, porque, ainda que não compreendamos, ele deseja somente o nosso bem, a nossa vida, a nossa salvação. Somos preciosos a seus olhos! Escutai o Apóstolo: "Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo juntamente com ele? Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que os declara justos? Quem condenará? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está à direita de Deus, intercedendo por nós?” Eis, pois, amados em Cristo, a dimensão e a profundidade, a largura e a altura do amor de Deus por nós! Deixemo-nos, portanto, tocar no nosso coração; convertamo-nos! Abramo-nos para o Senhor! Arrependamo-nos de nossas indiferenças, de nossa frieza, de nosso fechamento! Tenhamos vergonha de tanta incredulidade e desconfiança de Deus, simplesmente porque não entendemos seu modo de agir! Que Santo Abraão, nosso pai na fé, e a Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe na fé, intercedam por nós para uma verdadeira conversão quaresmal. E que, realizando com generosidade a amor, as práticas quaresmais, cheguemos às alegrias da Páscoa e contemplemos nos santos mistérios da Liturgia, a face do Cristo glorificado.

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