domingo, 25 de julho de 2010

Não Me Chamem Pelo Nome - António Botto


Quem é que abraça o meu corpo

Na penumbra do meu leito?

Quem é que beija o meu rosto,

Quem é que morde o meu peito?

Quem é que fala da morte

Docemente ao meu ouvido?

– És tu, senhor dos meus olhos

E sempre no meu sentido.

A tudo quanto me pedes

Porque obedeço não sei:

Quiseste que eu cantasse...

Pus-me a cantar e chorei.

Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Não me chamem pelo nome

Que me deram ao nascer;

Sou como a folha caída

Que não chegou a viver.

Meus olhos que por alguém

Deram lágrimas sem fim,

Já não choram por ninguém

– Basta que chorem por mim.

O que é que a fonte murmura?

O que é que a fonte dirá?

Ai, amor, se houver ventura,

Não me digas onde está.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sentindo os pés no chão...

Tocando o solo de minha existência, eu vou tocando a Vida pra frente.
Esta, que nem sempre merece ser "vivida"... às vezes, me dá uma vontade de partir.
Quiçá, desejo passageiro, repentino... outras, persistente devaneios de minh`alma.

Agora, nesse exato momento, queria estar distante do passado, se possível fosse, apagaria uma parte do que deixei lá atrás, vivendo de encantos e decepções, mais uma vez estou restituindo-me, como que uma fênix que renasce das cinzas.

Queimado e em meio ao pó do que foi e do que passou, dou conta que não valeu à pena as lágrimas que caíram, as dores e as náusea que me acometeram... todos os tremores soam, como que uma tempestade incapaz de roubar-me de mim mesmo.

Distanciando-me e com os pés fixos ao chão, vou deliberando meus sonhos mais uma vez.
Reconstituindo um pouco do que já fui e do que já vivi!



Por hoje é só...
Pax!


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Frase do Dia!

“Se achar que precisa voltar, volte! / Se perceber que precisa seguir, siga! / Se estiver tudo errado, comece novamente. / Se estiver tudo certo, continue. / Se sentir saudades, mate-a. / Se perder um amor, não se perca! / Se o achar, segure-o!” (Fernando Pessoa)

Tecendo a própria história...



Mais uma vez aqui estou eu, numa noite solitária e fria,
a desabafar meu pesar, a recolher minhas lágrimas e unir cada gota que escorre em minha face e juntar meu pranto, tecendo assim, nessa telinha, mais um pouco dessa história de penar, de fazer sofrer meu coração.

De uma história tão mal resolvida, tão confusa, tão cheia de nós. Porém, não cabe a mim, dar continuidade ou buscar sanar a problematicidade que ela traz em si, todavia, definitivamente encerrar o que nem começou. Ou quiçá, o que nunca existiu. Que talvez não saiu do "plano das idéias".

Eu, muito apegado às ilusões, à vontade criar e construir...
outrém, isolado, afastado de mim, preso ao seu próprio "Eu", de modo tão ególatra, tão solipsista... tão funestamente devastador de mim mesmo.

Acabo de perceber que se esvai meu amor próprio...
minha auto-afirmação se lança ao chão e na desdita de me esquecer de ti, dou conta de que também se vai contigo um pedacinho de mim.

Hoje, olhando para tudo...
percebo quantos recortes há em meu coração!
Tantos pedaços outros levaram consigo, e chorando sobre a imagem ferida do meu próprio eu frente ao espelho, apenas lamento e trago a certeza de que isso tudo passará...

Há dias, como hoje, que tudo emerge à boca e causa-me uma sensação de amargor, de fel mesmo. Contudo, espero em Deus, que tudo isso passe...
Que tudo isso se vá com o tempo e que seja breve a sua permanência!


Que venham outros e possam tomar parte daquilo que desmerecidamente
eu quis doar a alguém que não soube dar valor!



Madrugada de 13 de julho de 2010,

Luiz Melo.