domingo, 25 de julho de 2010

Não Me Chamem Pelo Nome - António Botto


Quem é que abraça o meu corpo

Na penumbra do meu leito?

Quem é que beija o meu rosto,

Quem é que morde o meu peito?

Quem é que fala da morte

Docemente ao meu ouvido?

– És tu, senhor dos meus olhos

E sempre no meu sentido.

A tudo quanto me pedes

Porque obedeço não sei:

Quiseste que eu cantasse...

Pus-me a cantar e chorei.

Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Não me chamem pelo nome

Que me deram ao nascer;

Sou como a folha caída

Que não chegou a viver.

Meus olhos que por alguém

Deram lágrimas sem fim,

Já não choram por ninguém

– Basta que chorem por mim.

O que é que a fonte murmura?

O que é que a fonte dirá?

Ai, amor, se houver ventura,

Não me digas onde está.