quarta-feira, 17 de abril de 2013

E hoje se fala em “liturgia” e se esquece da Liturgia


                Diante das enxurradas verborrágicas que persistem em falar sobre algo que condiz à Sã Doutrina da Mãe Católica, sinto-me invitado a refletir um pouco sobre algumas asneiras que ousam tecer a respeito de questões que condizem à Liturgia. Quiçá, nunca se tenha estudado, lido, ou mesmo, experimentado – pois me refiro à “Anamnese” – à atualização memorial. Mas, mesmo assim, tendem a – de modo grotesco – falar “em nome da Igreja”, haja vista que quando me refiro à DOUTRINA, TRADIÇÃO, DEPOSITUM FIDEI, ETC, falo em nome da Igreja (e isso é muito sério), sobretudo pela questão de expor um pensamento nas redes sociais.
Superando as visões secularistas que reduzem o Santo Sacrifício do Altar a uma “ceia fraterna” ou uma “festa profana”, somos, pois convidados a mergulharmos no mistério que constitui o “semblante sacrifical e salvífico”, o qual compõem a “λειτουργία” – “serviço público”; liturgia. De outra maneira, não conseguiremos nada discorrer sobre o augusto mistério que une a terra aos céus; que conclamam a multidão celeste e nos faz experimentar – de modo escatológico – o antegozo da perene Liturgia angélica. Ratifica-nos a Constituição Conciliar (Sobre a Liturgia), a Sacrossanctum Concilium:
“Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo” (SC 8).
A Liturgia jamais poderá ser entendida como uma dinâmica meramente ritualística – porque assim, já se fazia na religião pagã da Grécia Antiga. A Liturgia não poderá nunca ser reduzida a um relativismo inoportuno, onde caberá à cada comunidade “adaptar” – modificar o rito ao seu bel prazer. Não! A Liturgia não vive de achismos! A Liturgia, pela pujança do Espírito, nos coloca em comunhão (uns com os outros e com Deus). A Liturgia também não pode ser encarada como e, apenas, algo “rubricista”, que vive de normatizações meramente históricas. Ah! A Liturgia é a atualização da Aliança do Sinai, que depois foi confirmada por Josué e totalmente plenificado em Cristo, pela a ação do Espírito.
Liturgia não pode ser entendida como disciplina, para assim, se alcançar uma meta. Quem vive de metas são os ocultistas. Nossa maior meta é a santidade e esta independe de uma “disciplina” necessária para se alcançar a “graça”. É necessária, sim, uma disposição espiritual para que se possa gozar da Graça – que nos vem de GRAÇA! Do mesmo modo, não podemos pensar que a ação litúrgica poderá ser dissociada para com a ação humana.
“A participação na sagrada Liturgia não esgota, todavia, a vida espiritual. O cristão, chamado a rezar em comum, deve entrar também no seu quarto para rezar a sós ao Pai, segundo ensina o Apóstolo, deve rezar sem cessar” (SC 12).
O que celebramos deverá, de fato, ser concatenado com a nossa vida. Assim, nos fala o CIC:
“Obra de Cristo, a Liturgia é também uma ação da sua Igreja. Ela realiza e manifesta a Igreja como sinal visível da comunhão de Deus e dos homens por Cristo; empenha os fiéis na vida nova da comunidade, e implica uma participação «consciente, ativa e frutuosa» de todos [...] (A Liturgia)  deve ser precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão, e só então pode produzir os seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o empenhamento na missão da Igreja e o serviço da sua unidade.” (CIC 1071; 1072)
A Liturgia, sendo “Obra de Cristo”, deve ser entendida como sendo “Cristocêntrica”. A Liturgia que se desenvolve segundo os critérios de quem celebra, passa a ser “Idolatria”. Deixa-se de adorar a Cristo, passando-se a adorar a Baal. E aos chamados inovadores, eis que nos fala o Cardeal Ratzinger em sua exímia obra concernente à Liturgia:
“A liturgia não é um show, um espetáculo que necessite de diretores geniais e de atores de talento. A liturgia não vive de surpresas simpáticas, de invenções cativantes, mas de repetições solenes. Não deve exprimir a atualidade e o seu efêmero, mas o mistério do Sagrado. Muitos pensaram e disseram que a liturgia deve ser feita por toda comunidade para ser realmente sua. É um modo de ver que levou a avaliar o seu sucesso em termos de eficácia espetacular, de entretenimento. Desse modo, porém , terminou por dispersar o “propium litúrgico” que não deriva daquilo que nós fazemos, mas, do fato que acontece. Algo que nós todos juntos não podemos, de modo algum, fazer. Na liturgia age uma força, um poder que nem mesmo a Igreja inteira pode atribuir-se : o que nela se manifesta e o absolutamente Outro que, através da comunidade chega até nós. Isto é, surgiu a impressão de que só haveria uma participação ativa onde houvesse uma atividade externa verificável : discursos, palavras, cantos, homilias, leituras, apertos de mão… Mas ficou no esquecimento que o Concílio inclui na “actuosa participatio” também o silêncio, que permite uma participação realmente profunda, pessoal, possibilitando a escuta interior da Palavra do Senhor. Ora desse silêncio, em certos ritos, não sobrou nenhum vestígio”.

Por fim e, porque, sendo a Liturgia um “Bem de todos”, temos o direito de encontrarmos a Deus n’Ela – pela ação do Espírito Santo. Ou seja, temos o direito a uma celebração harmoniosa, equilibrada e sóbria que nos revele a beleza eterna do Deus Santo, superando tentativas de reduzi-la à banalidade e à mediocridade de eventos de auditório e, sobremaneira especial, aos achismos de outrem que insiste em se intitular “litúrgo”; “romano”; ou coisas do tipo.


João Pessoa-PB 17 de abril de 2013.
Luiz Melo.