domingo, 15 de março de 2009

Jesus revolta-se contra a exploração e todo tipo de idolatria!


Estamos a caminhar rumo à Pascoa de Jesus... É o mesmo Senhor que nos congrega em torno de Sua Palavra, sendo que, hoje Ele se demonstra diferente aos nossos olhos. O Jesus compassivo e piedoso, dá lugar a um Jesus revoltado; a um Jesus profundamente entristecido com as práticas dos cambistas dentro do templo.


O trecho do evangelho está diretamente ligado à uma expressão retirada da 1ª leitura de hoje, retirada da Torah:


"Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses além de mim" (Dt. 20, 2s).


Ora, aqui percebemos que outros deuses são estes... O deus do ter, do prazer e do poder... A idolatria que a Lei de Deus vai de encontro, reside, pois, na retirada, ou melhor, na descentralização de Deus, colocando no âmago do nosso ser, por exemplo o dinheiro; cobiça; a ganância. Práticas como essas tão contestadas por Jesus.


Jesus ao chegar no templo, lugar de oração; a casa de Deus; a Tenda do Senhor, depara-se com uma situação explorativa... Exploração, esta que faz com que Jesus tome a atiude de chicotear a todos... Talvez, alg muito forte para um povo que já se acostumara com tais práticas, mas, para Jesus foi o correto. Expulsando aquele povo, repreende-os:


"Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!" (Jo. 2, 15b).


A exploração que existia no templo era quase que semelhante, se talvez não fosse maior, a qual existia em mercados públicos. A Casa de Deus é um lugar de oração, um lugar onde Deus quer encontrar-se com seu Povo, não um lugar de exploração, de comércio!


É idolatria a ganância, é idolatria a impiedade, é idolatria reduzir a religião a um negócio lucrativo; é idolatria pensar que se pode manipular Deus com um dízimo, com um rito ou com um volume da Bíblia!


O Senhor previne: “Eu sou o Senhor vosso Deus que não aceita suborno!” (Dt 10,17).


Por isso Jesus age de modo tão violento: "...fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas". Que significa este gesto de Jesus? É uma pregação pela ação, uma ação profética, um gesto que vale por uma pregação. Jesus está revelando a santa ira de Deus contra o seu povo...


Hoje em dia, com uma mania boboca de sermos politicamente corretos (coisa que nunca assentará num cristão), ficamos escandalizados com um Deus que se inflama de ira, com um Jesus que deveria ser mansinho, bonzinho, tolinho, aguadozinho, insossinho, e aparece, no entanto, firme, forte, radical... e irado! Esse é o Jesus de verdade: surpreendente, desconcertante! Sua ira nos previne no sentido de que não podemos brincar com Deus, não podemos fazer pouco dele! Correremos o risco de perdê-lo, de sermos rejeitados do seu coração! Em outras palavras: a conversão é uma exigência fundamental para quem deseja caminhar com Deus, sendo discípulo do Filho Jesus!


Os judeus, contrariados, não entendem tal ação.. Surpreedem-se, tomando a palavra, indagam a Jesus:


"Que sinal nos mostras para agir assim?" (Jo. 2, 18b).


Jesus, utilizando-se de uma linguagem prefigurativa e ao mesmo tempo profética, fala que destruirá o templo, mas, em três dias reerguerá... Este templo quer ser, concomitantemente, o corpo de Jesus e nós, a Igreja, os membros de Cristo... Morrendo com Cristo na cruz, somos convidados a ressurgirmos pela força do Espírito Santo.


É interessante, aqui, que nos voltemos à primeira leitura e compreendamos que, a promulgação da Lei é um momento fundamental na história da salvação, caracterizado pela intervenção explícita de Deus que exprime a parte de Israel na aliança.

O aspecto mais original do "Código da aliança" é sua premissa: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz sair do Egito, de uma casa de escravidão; não terás outros deuses diante de mim..." o Deus que se revelou libertador do povo por ele escolhido livremente como aliado e amigo, indica-lhe o caminho da liberdade.


Liberdade que não se compraz em simplesmente ir ao templo; fazer nossas ofertas... Mas cumprir a Lei do Senhor!


Frequentemente, nossa aliança com Deus é reduzida a uma apressada visita dominical a uma igreja ou a um passeio turístico a algum santuário. O tédio da monotonia cotidiana abafa muitas vezes os gestos mais entusiastas.


Muitos cristãos são capazes de atos heróicos uma vez por ano, e depois se deixam enveredar nas malhas da esclerose espiritual e do legalismo. O cristianismo não consta de práticas a cumprir em determinados momentos.


A confissão, por exemplo, não é um problema de estatística. A justiça deve ser aplicada, mesmo que por isso nos considerem "pouco espertos". Perante a "lei de Cristo", uma pequena fraude cometida contra um irmão não é julgada segundo seu valor real, mas segundo a lei do amor. As pequenas infidelidades endurecem nossa sensibilidade a tal ponto que não podemos mais ouvir os chamados concretos de Cristo; e que, imperceptível, mas inexoravelmente, na ânsia de autojustificação, forma-se em nós outra lei que não é mais a de Cristo. A lei de Cristo é algo mais do que uma rígida lei pela qual se possa dizer: "Até aqui e basta". Jesus transforma a lei em um compromisso de amor e o amor nunca diz: "Basta". Assim, a lei se toma mais comprometedora. Isso é evidente na perspectiva em que Jesus põe o juízo: Mt 25, 31-46.


Depois de Jesus, toda falta do homem é uma falta de amor. E nada é mais grave. Mas, ao mesmo tempo, tudo é pessoal. Comete-se uma falta diante de um homem e diante de Deus. Mas podemos sempre recomeçar. Contanto que estejamos em caminho. Que tenhamos fome e sede daquela justiça que é justiça de amor.


Peçamos, pois, ao Espírito Santo, Aquele que levou Jesus ao deserto, que inflame as nossas almas de amor e que ajudados pela Sua bondade, possamos todos nós chegarmos à Páscoa de Jesus renovados com o compromisso de seguir os preceitos do Senhor e não fazer a nossa pura vontade!





Luiz Felipe P. de Melo.

III Domingo da Quaresma; ano B

15/03/09

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