terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mudança de Época...

Ao longo da história universal sempre exitiram autores para os quais o grande desafio que impusera-se era a da própria compreensão de seu tempo. Isso vale para o caso de Kant, que no século XVIII, com sua reflexão sobre o "Esclarecimento" e, assim, tantos outros. No nosso século, podemos destacar a obra de Hannah Arendt é, nesse sentido, exemplar.



Vivemos, atualmente, uma mudança de época, sendo o seu nível mais profundo o cultural. Observa-se, pois, que não se trata apenas de uma 'época de mudanças', mas, de uma 'mudança de época'. Isto é, não estamos a viver um período de algumas mudanças no comportamento das pessoas, nos valores, na forma de agir; ao contrário, estamos vivendo um momento de transição radical, de um processo civilizatório a outro. Autores da contemporaneidade chegam a afirmar que estamos a evoluir em sentido retrógrado, o qual terá seu "télos" - por assim dizer - na barbárie, onde somente os mais fortes sobreviverão, aqueles que mais exterminarem.


Sem cair nas peripércias de um saudosismo ingênuo, com frequência, ouvimos dizer: "No meu tempo não era assim". Isso nos faz perceber que todos os valores com os quais nascemos, todas as formas de convivência com base nas quais construímos nossa vida estão em processo final de mudança. Paulatinamente, faz-se notório o quão prejudicial são essas mudanças, as quais expressam-se claramente nos distúrbios comportamentais, que se evidenciam ainda mais com a mixórdia social.


Em nosso dia-a-dia observamos algumas das características dessa mudança tão radical e tão decisiva:


Uma super-valorização da subjetividade individual, vale ressaltar que a individualidade é um valor muito positivo. É por meio dela que nos relacionamos com o outro; entretanto, quando a individualidade se torna um individualismo, o outro deixa de ser meu companheiro de jornada para ser aquele que eu preciso derrotar. É o solipsismo que enfraquece os vínculos comunitários. É dentro deste individualismo extremo, que somos levados à indiferença pelo o outro, de quem não mais necessetimos e por quem não mais nos sentimos responsáveis.


Um outro ponto bastante significativo é que a realidade tornou-se cada vez mais complexa e extremamente difícil de se compreender. Temos cada vez mais informações sobre tudo e, ao mesmo tempo, temos dificuldade de compreender exatamente o que está acontecendo.


Ainda um terceiro ponto é concernente à ética: as coisas parecem já não ter sentido, porque cada um dá a tudo o sentido que deseja dar. Caímos, então, no que se chama de relativismo ético, alicerçado principalmente nas bases de um processo de inculturação norte-americano.


Por fim, o quarto e significativo ponto: os meios de comunicação passaram a ser o grande canal construtor - ouso até em dizer introjetor - dos valores antropológicos, estéticos, culturais, etc. Chegam a afirmar que estamos a vivenciar, por isso, uma nova colonização cultural pela imposição de culturas artificiais. Há, portato, uma ruptura com a ideia de futuro. Não há mais futuro. E, dentro dessa concepção, o passado já não mais importa, não mais tem valor e, nem muito menos desperta o interesse. Somente existe o presente, o cotidiano, o já e o agora. Ou seja, dentro de uma postura positivist, somente importa o que está posto à nossa fronte. Não se busca mais um viver racional, não vale a pena depreender esforços reflexivos sobre a nossa caminhada existencial; entretanto, prega-se e reproduz-se uma vivência de sentimentos e sentidos, na ânsia de experimentar tudo, de viver o já e o aqui. Fazendo-nos concluir que estamos a viver um período altamente pragmático e utilitarista, onde o ser dá lugar ao ter, ao poder e ao prazer, tendo como ética relativismo exagerado.


Luiz Felipe P. de Melo.

18/08/2008.

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